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10 de setembro de 2016

Eleições Municipais: uma janela de oportunidades para pessoas, cidades e bicicletas

  • Artigo para a coluna “Unindo Ciclos” da UCB na Revista Bicicleta. Ver demais artigos aqui.
  • Edição: Nº 65 – Ago/2016
  • Autor: Guilherme Tampieri – Coordenador de Campanha da “Campanha Bicicleta nas Eleições” da UCB

O urbanismo moderno nasceu e se desenvolveu ao mesmo tempo que o uso do automóvel durante o século XX. Nesse período, a organização do espaço público foi elaborada à luz das necessidades dos automóveis. Nesse processo, as cidades, progressivamente, privaram as ruas de suas funções sociais mais básicas que tinham como foco os serviços de proximidade e o transporte coletivo e ativo (bicicletas e pessoas andando a pé, majoritariamente).

As cidades nas quais podíamos fazer tudo a pé, de bicicleta, de bonde ou de ônibus foram transformadas gradativamente em cidades ditas modernas, unidas por grandes avenidas, vendidas para criação de enormes estacionamentos, rasgadas por rodovias. Paralelamente, a população foi sendo expulsa para as periferias, construídas para que mais gente tivesse que circular em automóveis para acessar funções básicas da vida em sociedade.

 

Especialmente nas médias e grandes cidades, vivenciamos esse processo de expulsão dos centros e estímulos ao uso do automóvel até os dias de hoje e os resultados são perceptíveis aos olhos de quem circula por aí:  crescimento da frota de automóveis, vias cada vez mais congestionadas, altos índices de poluição sonora, aumento das emissões de gases de efeito estufa e de poluentes locais, maléficos à saúde humana e animal, pessoas perdendo suas casas para dar lugar a viadutos e avenidas mais largas, praças e parques virando vaga para automóvel, motoristas estressados e alto número de atropelados, feridos e mortos no trânsito. A solução?  Construção de mais vias, que passarão mais carros, e alimentarão este ciclo.

Com as eleições, abre-se uma janela de oportunidades onde é possível a mudança deste ciclo, não somente pelo fato de podermos eleger a próxima pessoa a assumir a prefeitura, mas especialmente pela efervescência das pautas urbanas geradas nesse momento. Coletivos, organizações, sindicatos, estudantes, professores, profissionais da saúde, empresas e os múltiplos atores sociais compreendem que esse momento é fundamental para colocar em pauta suas respectivas bandeiras. Ou os temas e processos que defendem. É justo. É legítimo. É possível.

Outro aspecto que eleva o valor social das eleições é o fato delas acontecerem somente a cada quatro anos.  Ou seja, temos um curto período para definirmos as diretrizes que queremos seguir nos quatro anos seguintes, ainda que estas possam mudar minimamente.

Nas cidades brasileiras, mesmo naquelas que possuem Planos de Mobilidade Urbana considerados sustentáveis, medidas para melhorar a circulação de bicicletas e dar prioridade a ciclistas ainda são incipientes, embora variem bastante de uma cidade para outra. Já os problemas são recorrentes, numerosos e comuns: pouquíssimos investimentos públicos nos transportes ativos, estruturas cicloviárias nem sempre funcionais e seguras, sinalizações deficientes, estacionamentos para bicicletas insuficientes e mal concebidos, baixa ou inexistente integração com o transporte coletivo, ausência de políticas de compartilhamento das vias, redução de velocidades e outros.

Problemas semelhantes trazem soluções em comum: a compreensão de que a bicicleta é de fato um modo de transporte, a disposição política dos nossos gestores em promover o uso da bicicleta como meio de transporte e a necessidade eminente de reduzir as velocidades máximas nas ruas das cidades, por meio de intervenções urbanas simples, baratas e que podem usar a criatividade da população para serem implementadas.

Dar mais espaço às bicicletas significa alterar o cenário apresentado no início deste artigo. Nos novos espaços urbanos, deve-se integrar a bicicleta desde a concepção. Nos locais onde o uso do solo está consolidado, incluir a bicicleta é mais fácil do que se crê. A experiência no mundo e no Brasil demonstra que a remoção de alguns espaços de estacionamento, a redução da largura das vias ou mesmo a eliminação de faixas não provocam o caos imaginado e tampouco diminuem as vendas no comércio.

No entanto, essas decisões necessitam de uma certa coragem política e um real comprometimento com os transportes ativos por parte das prefeitas e prefeitos.

A campanha #BicicletanasEleições articula, fomenta e subsidia uma rede nacional de pessoas, movimentos e instituições que atuarão localmente para mostrar essa mudança de perspectiva sobre o uso compartilhado das cidades. Sobre o direito que todas e todos nós temos de escolher ir de bicicleta, em segurança, para onde quisermos.  Para além de compromissos, queremos cidades capazes de respeitarem nossa escolha de pedalar.

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